Meu Voto

André Camargo
3 min readSep 29, 2022

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imagem: SOPA Images/Andressa Anholete/Getty Images

Estamos diante da eleição mais importante da nossa história.

Não consigo conviver com a ideia de me omitir. Mesmo que me cause desconforto, decidi declarar meus votos.

Começo dizendo que não sou lulista ou petista — mas também não sou antipetista, como tantos se tornaram.

Votei em Lula para o primeiro mandato, em 2002, mas não para o segundo. Não votei em Dilma. Em 2018, votei no Ciro.

O que sou, mais que qualquer outra coisa — direita, esquerda ou isentão — é visceralmente contra o neofascismo, a política do ódio.

Costumava dizer que votaria em qualquer candidato ou candidata, qualquer um, com chances de vencer Bolsonaro — mas, verdade seja dita, isso foi antes de conhecer o Padre Kelmon.

Bolsonaro é cruel e desumano. Anti-ciência, anti-democracia, anti-floresta, anti-vida. Miliciano. Corrupto, profundamente corrupto, ainda que pose de xerife moral (como Fernando Collor, aliás, seu atual parceiro político).

A verdade é que a Bolsonaro só parecem interessar a guerra, a morte e o enriquecimento ilícito da própria família.

Na condição de psicólogo e psicanalista, desde 2018 antecipava o desastre que seria um político populista, de personalidade autoritária e inclinações sociopatas, ocupando o cargo de maior poder do país. A História prova que não tem como dar certo.

Hoje, faço eco às declarações recentes de ex-ministros do STF.

Joaquim Barbosa, mesmo tendo sido relator do processo do mensalão, afirma que

“Bolsonaro não é um nome sério, não serve para governar um País como o nosso. Não está à altura. Não tem dignidade para ocupar um cargo dessa relevância”.

E finaliza dizendo que

“nas grandes democracias, o Bolsonaro é visto com um ser humano abjeto, desprezível, uma pessoa a ser evitada. Esse isolamento internacional é muito ruim para o nosso País. Nós perdemos muitas oportunidades com isso. É preciso votar já em Lula no primeiro turno para encerrar essa eleição no próximo domingo”.

As palavras de Celso de Mello, declarando voto em Lula, são ainda mais contundentes. Diz ele:

“A atuação de Bolsonaro na Presidência da República revelou a uma Nação estarrecida por seus atos e declarações a constrangedora figura de um político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade, destituído de respeitabilidade política, adepto de corrente ideológica de extrema-direita que perigosamente nega reverência à ordem democrática, ao primado da Constituição e aos princípios fundantes da República”.

Meu voto em Lula, confesso, não é com entusiasmo ou convicção.

O que me entusiasma de verdade é a perspectiva de retomarmos a normalidade democrática e de nos vermos definitivamente livres de sujeitos como Onyx Lorenzoni, Damares, Augusto Heleno, Pazuello, Milton Ribeiro, Osmar Terra, Ricardo Salles, Queiroz e Daniel Silveira.

Para podermos respirar de novo.

De deixar atrás a república miliciana, a psicologia de seita, o culto às armas e à violência, o machismo catastrófico e vulgar, a cultura do ódio, os sigilos de 100 anos, os disparos em massa de fake news, o orçamento secreto, os ataques recorrentes à ordem democrática, as alianças com mercadores da fé, os imóveis comprados com dinheiro vivo, o descaso com a vida, os ataques covardes a jornalistas, as mentiras, ameaças, intimidações e agressões constantes.

E começar a reconstruir o que foi desmontado.

Apesar de provado que sofreu perseguição política, inclusive reconhecida pela ONU, ainda pesam sobre Lula e o PT acusações de corrupção. Por outro lado, são inegáveis as conquistas de sua gestão, sobretudo para melhorar a vida dos mais pobres.

Lula, vale lembrar, terminou seu governo com 87% de aprovação popular. E não transformou o país em uma Venezuela.

Meu voto é sobretudo em apoio à frente ampla que a campanha de Lula conseguiu reunir, que conta com gente tanto de esquerda quanto de centro e de centro-direita, assim como os principais nomes da classe artística, gente disposta a relevar as diferenças porque ciente do risco que é deixar o país sob o comando de extremistas.

Que tudo se resolva logo, no primeiro turno. É o melhor que podemos esperar.

Esta é a colinha que vou levar comigo para a cabine de votação:

PRESIDENTE: Lula / Alckmin (13)

GOVERNADOR: Haddad (13)

SENADOR: Márcio França (400)

DEPUTADA FEDERAL SP: Sônia Guajajara (5088)

DEPUTADO ESTADUAL SP: Eduardo Suplicy (13133)

André Camargo é Mestre em Psicologia pela USP. Autor do livro “O Poodle de Schopenhauer” e do artigo mais lido do Linkedin em 2017.

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